A IMPLANTAÇÃO DE LABORATÓRIOS SUSTENTÁVEIS DE MATEMÁTICA COMO RESPOSTA AO FRACASSO BRASILEIRO EM MATEMÁTICA E TAMBÉM À PROBLEMÁTICA DO LIXO
A
IMPLANTAÇÃO DE LABORATÓRIOS SUSTENTÁVEIS DE MATEMÁTICA COMO RESPOSTA AO
FRACASSO BRASILEIRO EM MATEMÁTICA E TAMBÉM À PROBLEMÁTICA DO LIXO*
Profª Esp. Daniela Mendes Vieira da Silva
CEHC-SEEDUC/RJ
contato@laboratoriosustentaveldematematica.com
Tenho observado, como
professora de Matemática atuante na educação básica, uma grande dificuldade do
alunado, salvo raras exceções, para a compreensão desta disciplina. Muitos, mas
muitos mesmo, não conseguem fazer a necessária ponte entre o mundo concreto e o
“intangível” mundo da Rainha das ciências. Esta dificuldade na travessia tem inspirado
verdadeiro pavor em uma classe numerosa de nossos educandos, e não estou
sozinha nesta constatação. O último
relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
relativo ao ano de 2012, apresentou um estudo no qual foi constatado que os
estudantes brasileiros apresentam o terceiro mais alto nível de ansiedade ao
solucionar problemas matemáticos, apenas superado por Tunísia e Argentina.
Ainda segundo o estudo tal temor nos causa um atraso de um ano de escolaridade
em proficiência matemática.
Diante do exposto, é
urgente que novas maneiras de ensinar Matemática sejam pensadas, uma vez que o ensino
tradicional tem amargado duras derrotas nesta missão. Tenho modestamente,
tentado fazer a minha parte, meu trabalho de formiguinha para encontrar uma via
que ajude a reverter esse quadro dantesco. Confesso que buscando superar esta
barreira já tentei de tudo um pouco, já cantei, contei histórias, fiz
brincadeiras, gincanas, entre outras inúmeras tentativas de tornar a Matemática
mais “palatável”. Até consegui angariar
alguma simpatia, mas bastava chegar o momento da avaliação, para que todo o meu
trabalho desmoronasse como um castelo de cartas. A tal apreensão voltava com
força total e os bloqueios que eu pensava ter contornado se mostravam impávidos
nos rostos lívidos de meus alunos.
Nesta busca encontrei o
programa de desenvolvimento da escola (PDE) que estimula e financia a criação de
espaços de interação através da aquisição de materiais manufaturados
diversificados para as escolas públicas. O programa contempla diversas
disciplinas e entre elas a Matemática. Ao trabalhar com estes objetos, comecei
a ver uma luz nos olhos de meus alunos. Utilizando o material manipulativo
manufaturado eles começaram a se soltar, se interessar, se libertar de seus
medos. Este caminho foi válido, pois as turmas que interagiam com este material
concreto apresentavam uma mudança de postura em relação à disciplina, assim
como uma melhora comportamental relevante, consequência direta do aumento de
interesse e atenção do alunado. Entretanto as avaliações formativas apontaram
para uma melhora apenas discreta em relação à compreensão do conteúdo. Por este
motivo observo que não obstante o bom acervo de materiais manufaturados a que
tive acesso, acervo este composto de materiais de alto valor pedagógico, tais
como: material dourado, blocos lógicos, ábacos abertos e fechados, só para
citar alguns exemplos cuja contribuição ao aprendizado de Matemática não se
discute aqui, esbarra em um limite, uma vez que, de acordo com os estudos de
Jean Piaget, cada estudante tem a sua própria maneira de construir o seu
conhecimento. Desta forma, o aluno como ser singular que é, necessita,
portanto, de subsídios que respeitem esta especificidade, algo que não pode ser
conseguido com materiais industrializados somente.
Este limite pode ser superado
com a construção de materiais manipulativos artesanais muito simples, basicamente
uma transposição do que o professor desenha no quadro ao tirar dúvidas
específicas de seus alunos, para suportes de baixo custo, como por exemplo,
papelão e todo tipo de material reciclável. Esta transposição oferece várias vantagens, a
saber: A primeira reside no custo baixíssimo de produção dos materiais
concretos, pois estes são confeccionados a partir de material reciclável,
matéria esta não só gratuita, mas também abundante em nosso país. A segunda
razão aponta para o fato de que a construção e manipulação destes objetos de aprendizagem em
conjunto com o alunado se configura em uma excelente oportunidade pedagógica,
pois cria um ambiente de pesquisa e experimentação, onde o aluno é protagonista
da construção do seu saber alcançando a abstração através do trabalho com o
concreto e se tornando um colaborador atuante na pesquisa do professor. A
terceira questão é o viés ecológico do projeto que alavanca toda uma
discussão/ação em torno do descarte do lixo, promovendo a conscientização de
toda a comunidade escolar. Esta mudança da relação do discente com a Matemática
se traduz em uma melhoria consistente do seu rendimento, melhoria esta
comprovada por avaliações externas inclusive, em turmas que utilizaram estes
objetos de aprendizagem. Ou seja, a necessária
ponte de que falei no início do artigo era feita de material manipulativo
específico. E é na reunião destes materiais concretos ecológicos que o acervo
do Laboratório Sustentável de Matemática é construído.
Desta forma fica um
convite a você professor! Que tal criar este espaço para a melhoria do
aprendizado de Matemática e também de conscientização ambiental em sua escola?
A bola está com você! Vamos construir algumas pontes?
*A construção do
laboratório sustentável de matemática do C.E. Hebe Camargo, que inspirou este
artigo, está sendo documentada e pode ser acompanhada neste blog.
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
CASTELNUOVO, E. Didatica de la Matemática Moderna. México:
Trillas, 1970.
FIORENTINI, D. MIORIN, M.A. Uma reflexão sobre o uso de
materiais concretos e jogos no Ensino da Matemática. Disponível em: http://www.matematicahoje.com.br/telas/sala/didaticos/recursos_didaticos.asp?aux=C,.
Acesso em 04 nov.
LEFRANÇOIS, G. R. Teorias de aprendizagem. São paulo. Cengage Learning. 2008.
MOTTA, Carlos Eduardo Mathias. Proposta de uso da
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Ensino Matemática.
PIAGET, J. (1983) A Epistemologia Genética.
Piaget. Coleção Os Pensadores. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural. 1-64.
UOL EDUCAÇÃO. Pisa: desempenho do Brasil piora
em leitura e 'empaca' em ciências. Disponível em
<http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm. >, acesso em 13 jun.
2014.